sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Academia Brasileira de Letras vs Capcom




Desde a popularização da televisão, educadores tentam passar aos jovens o hábito da leitura sem muito sucesso. Com o advento dos jogos eletrônicos, essa tarefa se tornou ainda mais difícil.
Por outro lado, muitas pessoas começaram a ler quadrinhos por causa de Marvel VS Capcom, assim como muitas pessoas passaram a entender alguma coisa de mitologia grega por causa de God of War.
Baseado nisso, sugeri há algum tempo atrás no Twitter uma ideia de jogo que trago hoje de forma expandida pra facilitar o trabalho da CAPCOM e do Ministério da Educação (não precisam agradecer) e ver se eles se animam.

História:
Na boa, é um jogo de luta.

Personagens da Capcom:
Os mesmos de sempre. Só peço que ao invés do Ryu coloquem o Blanka como destaque, nosso orgulho nacional!

Personagens da ABL:

Os mais CDFs notarão que alguns personagens não são imortais da Academia. Para esses eu digo: amigo, se a Namco pode colocar o Darth Vader no Soul Calibur e a Warner pode colocar o Kratos no Mortal Kombat, eu posso colocar o Zé Gotinha aqui e ninguém tem nada que reclamar, até porque o texto é meu! O importante é que sejam brasileiros e escritores.
O primeiro presidente da Academia, Machado de Assis, não poderia ficar de fora. Machado luta com um machado e com o apoio do cachorro Quincas Borba, no melhor estilo Samurai Shodown. Bastante apelão, o personagem tem os golpes “Pedro’s Strike” e “Paulo’s Slash”, um “hadouken” e um “shoryuken”, representando os gêmeos rivais de sua obra (afinal, quando dois personagens são rivais parecidos, é obvio que a especialidade de um é o hadouken e a do outro é o shoryuken). Seu especial é o lendário Bentinho’s Vengeance Ray, onde Machado de Assis libera todo o ódio suprimido de Bentinho em um raio mortal com um grito de “CAPITUUUUU!”. Sua frase de vitória: “Ao vencedor, as batatas”.
José de Alencar, mais romântico, usa armas indígenas: a “Peri’s Bow”, “Ubirajara’s Lance” e o “Iracema’s Shield” porque sempre tem que ter um escudo nessas coisas. Cada flechada é acompanhado de um grito patenteado de “CECIII”. Em seu especial, a Senhora Aurélia Camargo aparece e empresta uma grana pro autor pra que ele fique mais forte e invencível por um tempo.
Muito requisitado pelos fãs, Carlos Drummond de Andrade é presença garantida no jogo. No início de suas lutas, um anjo torto, desses que vivem na sombra, deixa Drummond no ringue e fala “Vai Carlos! Ser gauche na vida!”. Em um dos seus golpes, grita: “No meio do caminho tinha uma pedra” e derruba o oponente com uma pedrada. Em seu especial, “Quadrilha”, Drummond chama alguns strikers: João, que amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, que não amava ninguém. João acerta um soco na cara, Teresa dá um chute na costela, Raimundo acerta um gancho, Maria vem na voadora com os dois pés no peito, Joaquim dá uma joelhada e Lili atira o oponente pra João Pinto Fernandes, que não tinha entrado na luta até agora, para finalizar com um pilão. Ao vencer, Drummond pergunta: “E agora José?” ou alternativamente “Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, eu enxulapava a tua cara do mesmo jeito seu mané!”
Sofrendo de tuberculose, Manuel Bandeira é o lutador mais lento da ABL. Remetendo a seu célebre poema “Os Sapos”, Bandeira usa diferentes tipos de sapos durante a luta, cada um com uma habilidade diferente (sapo-boi, sapo-tanoeiro, sapo-pipa, etc). Em seu especial, Bandeira invoca uma locomotiva falando “café com pão” três vezes bem rápido. Frase de Vitória: “Vá embora pra Pasárgada, ser amigo do rei”.
Jorge Amado, como bom baiano, não luta se for o primeiro escolhido (pra que essa pressa toda?). O escritor usa a tradicional peixeira de jagunço e o cacau, que ao acertar o oponente deixa-o imóvel, uma vez que o visgo do cacau se prende a sola dos pés e não sai mais. Jorge Amado tem um cenário especial, Santana do Agreste, com direito a Tieta no telhado de uma das casas. Em seu golpe especial, os Capitães de Areia invadem a tela e atacam o oponente impiedosamente.
Como presença feminina obrigatória, temos Clarice Lispector com seu especial “A Hora da Estrela” e sua frase de vitória “É estranho sentir saudade dos air-combos que mal acertei ou evitava acertar”. Nelson Rodrigues, também é presença obrigatória, mas descrever seus golpes obrigaria o GameWorld a colocar uma verificação de idade no site.
Os cenários são igualmente ricos: Sítio do Pica-Pau Amarelo, o Cortiço, Pasárgada e o sertão com uma família de retirantes ao fundo (a mãe brigando com a cadela Baleia pelos restos de um preá). Dá pra colocar mais uma porrada de personagens aí, como os secretos “Akuma Parnasiano”, “Ryu Modernista” e o pacote de escritores da Coleção Vaga-Lume via DLC.  Mas vamos ficando por aqui já que o texto está grande o suficiente. Fica a dica pro Ministério da Educação que um jogo educativo não precisa ser chato. E até a próxima quando falaremos sobre Duke de Caxias Forever (ou não).
Artigo originalmente publicado em 14/10/11 no portal Gameworld.
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